Lá tenho que interromper a badalhoquice para falar sério, mas o assunto merece-o. Pronto, já sei, de vez em quando sou dado a estas fragilidades
Vem isto a propósito de um novo(?) blog que apareceu este mês no blogspot dedicado a Salazar. Não, não é à Ana das modas, é mesmo ao dito António Oliveira.
Sou de esquerda, sempre fui, mesmo antes de 74. Por isso, ou também por isso, sempre considerei, e persisto nessa ideia, que Salazar teve uma enorme estreiteza intelectual e falta de criatividade na condução deste país.
Não me refiro a aspectos como a polícia política ou a persistência numa guerra historicamente condenada, porque esses são traços"folclóricos" da ideologia que seguia. Refiro-me em concreto à falta de vontade de fazer crescer a economia, de desenvolver o povo, enfim, a tudo aquilo que se manifesta no facto de, no momento da sua morte, sermos o povo mais pobre da Europa. E isto apesar de sermos "donos" das celebérrimas provínvias ultramarinas: sendo que pelo menos uma delas era um manancial de enriquecimento possível.
Considero-o responsável por perfilhar a ideia de país tipo sacristia, atrasadinho quanto baste para não pensar, vivendo na ilusão de que as fronteiras são eternamente estanques.
Mas, apesar de tudo, os governantes da democracia acabaram por me levar a um atenuar das minhas posições que, como se vê, são críticas. É que, e já o disse no meu blog, estes senhores não só não são mais criativos como, ainda por cima ficam muito longe da honestidade de Salazar.
Ainda por cima, com as suas atitudes, estão a criar espaço para um dia destes, face ao descrédito na democracia, aparecer aí um grupelho qualquer de extrema direita disfarçado de partido, a obter algum sucesso eleitoral.
Honre-se a memória do homem, não se achincalhe, sobretudo por aqueles que não lhe chegam aos calcanhares, mas transformá-lo em ídolo é um erro intelectual e histórico. Sobretudo agora que a livre circulação de informação e de ideias nos permite ver o que faltou a esse homem e aqueles que servilmente o rodeavam, apresentá-lo como ídolo a um povo de memória curta e a jovens que nunca tiveram de perspectivar a certeza de lhes meterem uma arma na mão para irem defender as tais províncias ultramarinas , é um acto de cretinice.
Agora que o afastamento temporal já nos permite alguma clarividência, ressuscitar Salazar é prova de mediocridade intelectual ou má vontade, ou ambas.
Mas realmente, com governantes competentes como os que temos tido, abrem-se as portas para a erupção de tudo quanto é estúpido.
Para aqueles que não entendem que são concepções paralíticas como as de Salazar as responsáveis por termos uma economia anã e um povo com um défice flagrante de formação cívica. E claro, como consequência, temos os governos a condizer.
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. Este blog já não mora aqu...
. Sempre
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