Andava o pessoal tão entretido com o Big Brother, as telenovelas, a futebolite e a vida das vizinhas, quando de repente nos cai o Bibi na sopa, num país sem notícias incómodas, que isso dos aumentos dos bens essenciais e da perda de qualidade de vida já nem é notícia: a nossa indignação foi mansinha. Valia mais nem termos sabido, que estas coisas que nos chamam à realidade nem deviam ser divulgadas. Ainda se fosse uma bulha entre o Benfica e o Sporting, isso sim, é folclore e tem honras de abertura dos telejornais. Mas a coisa acabou por se compor e ter algum interesse, com figuras públicas a serem, umas denunciadas, outras enxovalhadas e todas imediatamente julgadas na praça pública. A tónica de telenovela tinha sido alcançada.
Estava em Madrid no dia da manifestação contra a guerra no Iraque. Não fazia ideia que iria haver uma manifestação, quando saí do hotel para ir à Casa del Livro. Tentei atravessar as Puertas del Sol, mas era impossível. No dia seguinte, os jornais espanhóis concordavam todos numa participação de mais de um milhão de pessoas.
Não se manifestavam por razões egoísticas, para pedir aumentos ou melhoria da qualidade de vida. Manifestavam-se por algo que se ia passar bem longe, mas que consideravam injusto e infundado. Reféns numa das ruas de acesso, eu e quem me acompanhava, jurávamos que não ia caber mais gente, que a grande praça ia rebentar. Mas não parava, o manancial de manifestantes.
Nós, por cá, nem para o bolsito nos motivamos. Podem pôr o papo-seco a 1 euro, lançar-nos impostos sobre impostos, destruir os poucos benefícios sociais que já tínhamos atingido, gozarem com a nossa inteligência em declarações e entrevistas em tom de conversa para crianças ou idiotas, que a gente não mexe. Ainda não abandonámos o conformismo a que nos habituámos durante a ditadura.
Dois povos tão próximos e tão diferentes E eles também tiveram ditadura.
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