Não posso deixar de prestar a minha homenagem a um homem que decidiu enfrentar o poder do Estado, confrontando-o com as suas ilegalidades ou abusos do poder.
Tem surgido na opinião pública como uma espécie de vingador e porta voz do cidadão comum que, em regra, se sente impotente perante o Estado. Mas estas actuações levantam outro problema.
Ao conseguir que o Estado seja condenado, obtém indemnizações. E a questão surge exactamente no plano das indemnizações e pode equacionar-se da seguinte maneira.
Será que os agentes da administração aprendem a lição, evitando futuros atropelos dos direitos dos cidadãos?
Será que são pessoalmente responsabilizados pelo prejuízo que causam aos dinheiros públicos?
É que é simples brincar com o dinheiro dos outros quando não somos responsabilizados.
As pontes caiem por negligência dos respectivos serviços inspectivos e o Estado indemniza as vítimas.
As passagens pedonais caiem sobre automóveis e volta-se a indemnizar.
Constrói-se uma via rápida encostada a um prédio de habitação, mais indemnização.
As indemnizações são justas e merecidas. A questão é saber porque é que havemos de ser nós, os contribuintes, a pagar dos nossos impostos as consequências da incompetência e negligência daqueles a quem já pagamos ordenados.
E, na origem disto, estará sempre a irresponsabilização dos agentes da administração pública.
Andamos todos tão contentes, tão agradados com a nossa vida, que não posso deixar de aqui formular o meu agradecimento aos governos lusitanos dos últimos trinta anos. Só recomendo aos senhores titulares de cargos políticos, presentes e passados, que não apareçam disfarçados nas feiras, tascas, cafés e autocarros deste país ( enfim, qualquer lugar onde se possam juntar mais de dois portugueses ). É que nos últimos tempos tenho diversificado o meu conhecimento da língua portuguesa ouvindo alguns epítetos que só costumava ouvir no antigo mundo rural quando o gado se desmandava.
AGRADECIMENTO
1. Por nos terem colocado na cauda da Europa ao fim de trinta anos de democracia.
2. Por terem assinado à balda um Pacto de Estabilidade que nos obriga a apertar o cinto quando ainda nem atingimos os mínimos dos outros países europeus.
3. Por terem permitido que os médicos espanhóis que não tem nota para lá trabalharem ocupem os lugares de alunos portugueses que se candidatam com 18 e não entram em Medicina.
4. Por manterem o Estado português como o maior caloteiro nacional.
5. Por transformarem a administração pública numa espécie de asilo para inúteis partidários, geralmente incompetentes.
6. Por tratarem a pátria lusitana como se fosse a sua quinta e os lusos como servos da gleba.
7. Por desbaratarem o dinheiro público - nosso - em obras de fachada, desprezando o essencial.
8. Por colocarem na pasta da Justiça donas de casa com os dentes amarelos.
9. Por manterem um ensino público sem Norte, vagueando ao sabor das "iluminações" partidárias.
10. Por recusarem aos nossos jovens uma educação sexual digna desse nome.
11. Por mudarem os livros de ensino todos os anos.
12. Por sacrificarem fiscalmente os trabalhadores por conta de outrém.
13. Por facilitarem a evasão fiscal.
14. Por proporem numa legislatura aquilo que tinham recusado quando na oposição.
15. Por terem liquidado a agricultura ( a Estremadura espanhola agradece ).
16. Por serem tacanhos e provincianos.
17. Por nos mentirem descaradamente durante as campanhas eleitorais.
18. Por fazerem de nós parvos. Os resultados eleitorais têm demonstrado que não somos assim tão parvos como eles pensam.
19. Por terem os ministérios cheios de gente sem que se vejam resultados práticos.
20. Por ignorarem os dados da ciência.
21. Por, em regra, serem golpistas.
22. Por terem um paleio balofo, para enganar o patego.
23. Pelo funeral de Estado de Maria de Lurdes Pintassilgo ( parecia o de Sá Carneiro! ).
24. Por deixarem arder as nossas florestas.
25. Por deixarem poluir os rios.
26. Por permitirem a especulação fundiária ás mãos de tudo quanto é pato bravo.
27. Por lançarem imposto sobre imposto nos automóveis.
28. Por fugirem quando a coisa fica preta.
29. Por darem ao Paulo Portas a pasta de Ministro do Mar sem o homem saber.
30. Por nomearem como Ministro do Ambiente um licenciado em Direito.
31. Por não terem qualquer consideração por nós que lhes pagamos os ordenados.
Como é que eu explico aos meus filhos, conhecedores de outros países, a inépcia, a negligência, o oportunismo e a incompetência?
Como é que lhes justifico a nossa passividade geral perante este gozo governativo?
Como me desculpo por contribuir para o seu não futuro?
É simples: falo-lhes das últimas contratações do Benfica e promovo-lhes o gosto por telenovelas.
Não resolve, mas distrai...
Descobri os blogs da pior maneira: através do Meu Pipi.
Devo dizer que ainda sou um blogueiro aprendiz. Mas, daquilo que já vi, valeu a pena "blogar" para conhecer o outro lado do Dr. Pacheco Pereira. Nas conversas da TSF, raramente concordava com os seus pontos de vista políticos.
Saliente-se também que não é por agora ter começado a bater no Psd que a minha apreciação do JPP mudou. Nem é a questão política em sentido estrito que me leva a escrever estas linhas.
É que descobri no homem uma frontalidade e desapego que lhe desconhecia, encoberta nas mais das vezes pelo papel de defensor quase oficial das posições do partido. Descobri também que não perdeu a capacidade de se revoltar que lhe era própria noutros tempos.
O país perdeu um deputado e um político oficial. Mas ganhou um homem político, liberto de compromissos partidários e, por isso, livre pensador.
Quem lê o Abrupto ( www.abrupto.blogspot.com ) descobre, para além do mais que fica dito, um homem com uma cultura notável e que, parece-me, tem sido desperdiçado por esta nobre pátria.
Viva a diferença, num país onde quase todos se vergam por um empregozito ou uma benesse de quem manda! Aqui, onde ninguém contraria a autoridade por medo de represálias, o JPP ousou.
Estou certo que vai ser retribuido pelos donos do poder.
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. ...
. Este blog já não mora aqu...
. Sempre
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